Sabe aquele ditado que diz que quando a vida oferece limões fazemos limonada? Então, nos treinos não é muito diferente, o simples ato de correr envolve tantas variáveis que não é possível controlar todas e tentar sempre obter o melhor tempo é praticamente impossível…. As condições ideais de treino, como o CNTP (condições normais de temperatura e pressão) nas pesquisas, só existem no mundo ideal, com isso temos dia bons, dias ruins, dias extraordinários e dias terríveis e um atleta deve aprender a reconhecer estas variáveis e fazer o seu melhor mesmo que isto não resulte num bom tempo.
Um recorde normalmente é batido quando este conjunto de variáveis tornam-se favoráveis, estar apenas bem treinado não garante recorde, apenas o deixa capacitado a buscá-lo. O mesmo vale para um treino, o treinador quando elabora a planilha, está considerando o ambiente ideal, mas cabe ao atleta, principalmente ao amador, analisar as variáveis, como cansaço e stress devido ao trabalho, coração partido, temperatura muito alta, umidade baixa, percurso com altimetria variável ou então momentos alegres da vida, férias, temperatura baixa, etc e fazer ajustes nos treinos.
Por exemplo, eu treino baseado em frequência cardíaca (fc) e dependendo destas variáveis, o ritmo numa determinada fc pode variar absurdamente e não significa que estou melhor ou pior, mostra simplesmente que estas variáveis ajudaram ou não… ficar frustrado porque num treino onde tudo jogou contra, não foi exatamente o que o treinador pediu é tão inútil quanto tentar prever onde o arco íris irá aparecer.
Bom tudo isso, foi só para justificar a minha semana que começou muito bem e terminou levada pelo vento….
Na terça-feira achei que iria estar com a musculatura cansada por causa da prova de domingo, mas isto não aconteceu e consegui fazer o treino, 8 de 2’30 a 80% com ritmo em torno de 5:00.
Na quarta-feira, o treino 2 de 4 km 80% também foi muito bem, fiz a primeira série com ritmo 5:10 e a segunda com ritmo 5:04, correndo solta e sem forçar.
Na sexta-feira chegou a vez de 5 km a 85%, comecei correndo tranquilo com ritmo em torno de 5:10, quando me dei conta que podia acelerar e correr com ritmo menor. Fui pra cima e fechei os 5km em 24min28s.
No sábado, como numa mudança repentina de tempo, tudo mudou…. O treino era pra ser passeio no parque, 20km a 80%. Não sabia exatamente que ritmo ir, mas a idéia era girar em torno de 5:10/5:15 e se tivesse bem acelerar para 5:00. Mas as variáveis não permitiram, o tempo estava quente e seco, eu dormi pouco, comi uma banana que parou minha digestão e já nos primeiros km dei um mau jeito no pescoço o que me fez correr com dor da cabeça até o ombro. Tentei ainda no começo forçar o ritmo, mas não conseguia ir mais rápido que 5:20. Para piorar enfrentei a pior ventania da minha vida, ventava tão forte que precisava fazer esforço tremendo para me manter correndo. Diante disso, tinha duas opções, abortar o treino ou aproveitar a vista…. Decidi aproveitar a vista e apenas completar a quilometragem correndo no ritmo que desse. Fui levando o treino, a ventania desgastou minha musculatura e no final praticamente me arrastei… Fechei o treino em 1:53:00 literalmente acabada, tão exausta que desabei no chão, sem coragem para levantar. Nem em treinos de 34km terminei deste jeito…
Passei o sábado largada no sofá e no domingo ainda estava tão cansada que abortei o treino e dormi até o corpo dizer chega…. Foi tão bom…
Posso afirmar que o treino de domingo entrou com certeza para o ranking dos treino/prova mais difíceis da minha vida, aquele para contar para meus netos o dia que transformei limões em limonada e aproveitei a vista.