sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Maratona de San Francisco

Com quase duas semanas de atraso, finalmente consegui tempinho pra escrever… Isso sim que eu chamo de férias de verdade…

Cheguei em San Francisco na quinta-feira e os três dias mais quentes de SF dos 14 que fiquei na cidade foram exatamente sexta, sábado e domingo, dia da prova, a partir daí, o tempo variava em nublado, muito nublado, nublado com vento, pouco nublado… Aliás existe duas certezas em SF que haverá vento e que haverá subida ou descida e na maratona não foi diferente…

A expo para a retirada do kit foi num lugar muito legal e com ônibus disponibilizado pela organização transportando do local próximo onde seria a largada até a expo. Isso ajudou muito principalmente os turistas que não conhecem muito bem a cidade. Lá tinha bastante stands e meu cartão de crédito sofreu alguns abalos severos… Só senti falta de stand para venda de tênis, estes tive que ir em outra loja para adquiri-los.

Fui na expo na sexta-feira e no sábado fiquei quietinha no hotel descansando…

No domingo a largada era as 5:30, mas como estava num hotel distante um pouco mais de 1km, não precisei acordar tão cedo e saí por volta das 4:50 indo trotando até lá, aproveitando a distância para um rápido aquecimento. Deixei minha sacola no guarda volume e fui para minha baia de largada… Quando entrei levei um susto, era o mesmo da elite, não tinha separação; elite e sub-seeded (espécie de elite B) saíam juntos… Não contei mas acho que não tinha mais que 100 atletas.

race_340_photo_6330131Quando largamos tive que segurar o ritmo, pois a maioria ia num ritmo muito maior que o meu e não podia me empolgar, depois do primeiro km o ritmo girava em torno de 5:00, mas o ritmo não encaixava… Por volta do 2 ou 3 km comecei a ser ultrapassada pela segunda onda que largou apenas a 2 min depois de nós.. Segui no meu ritmo até quase o 4º km, quando teve o primeiro posto de hidratação, que na verdade era um copinho aberto e pequeno destes de aniversário com apenas metade de água, o que considerando o que cai ou entra pelo nariz, rendeu no máximo 1 gole de água… Na hora eu quase entrei em pânico, hidratação a cada 4km e com apenas isso de água, será desidratação na certa ainda mais se o sol sair.

Aqui vale um parênteses… A hidratação foi pra mim o único ponto negativo nesta prova, em cada posto tinha quase que parar e pegar um copo de numm (eletrolítico) e dois copos de água e tomar mais devagar pra não desperdiçar, com isso devo ter perdido fácil uns 2 a 3 min do tempo total de prova nos postos de hidratação. Depois do 21km a hidratação ficou mais fácil, pois houveram mais pontos de hidratação e além de ter esvaziado a prova com a conclusão dos atletas da primeira meia maratona.

Voltando para a prova, logo em seguida ao posto de hidratação veio a primeira subida e descida (a do Fort Mason). Eu havia passado nesta subida no dia da retirada do kit e pensei pera aí, esta subida não estava na altimetria kkk, neste momento percebi que a prova não seria fácil e resolvi abortar a busca por tempo e decidi fazer a melhor prova que pudesse fazer, meu medo era quebrar como em Boston.

Depois desta subida seguimos pelo Crissy Field até a subida para a Golden Gate. A subida foi forte, mas passei sem maiores problemas e quando chegamos na ponte ventava muito, o dia estava amanhecendo e parecia que ia ficar nublado. A ponte tinha uma inclinação, mas era menor que o da ponte Rio Niteroi. Era ponte que não acabava mais (e vento também) e curti cada metro que passei lá. No termino da ponte, houve ponto de água e distribuição de Gu (que não peguei), fizemos o retorno e voltamos para a ponte novamente.

race_340_photo_6652922 Quando saímos da ponte havia passado pelo 15º km, estava me sentindo bem e iniciaria a segunda parte da prova, Presidio e Parque Golden Gate. Descemos um pouco passamos por um túnel e subimos novamente, daí houve um ponto de hidratação, o mais confuso da prova e começamos a despencar ladeira abaixo, não era uma descidinha, era um despenhadeiro… comecei a rezar para a musculatura agüentar e fomos quase todos a 4:40/4:30… Foi a parte mais gostosa da prova, parecíamos um bando de loucos correndo…

Daí saímos do Presídio e seguimos pelas ruas até o parque Golden Gate, como em todas as ruas de SF, era um verdadeiro tobogã, você descia e depois subia… Numa destas ruas, um rapaz colocou em frente a sua casa duas pequenas caixas de som e deixava tocando o tema de Rocky Balboa, exatamente quando tínhamos um subida para fazer. Aquela música mexeu tanto comigo que subi a ladeira me sentindo o Rocky subindo as escadas até a estátua, mas não vibrei quando cheguei no topo, apenas sorri e segui correndo.

Aqui vale outro parênteses… Nas ruas, haviam pontos onde ficavam pessoas nos incentivando com seus sinos (algo comum nos EUA), guardas controlando o trânsito (entre um pelotão de corredor e outro, eles deixavam os carros cruzarem a rua) e staff da prova que eram motociclistas (aqueles homens grandes e barbudos com coletes de couro e grandes motos, era muito legal passar por eles).

race_340_photo_6350091 Quando chegamos no parque, houve separação dos atletas de meia maratona e maratona e a partir deste ponto a prova ficou vazia. O parque foi a parte mais difícil e monótona da prova, ficamos lá dentro por quase 10 km (do 20º ao 30ºkm), fazendo volta, subindo e descendo, passando por lago, contornado gramados. O parque é simplesmente lindo, mas de tanto fazer curva fiquei um pouco tonta. Também foi a parte que houve o maior ganho de elevação, o que exigiu esforço para manter o ritmo. Eu estava com medo desta parte, pois em Boston eu quebrei no 24ºkm, quando passei pelo 25º km inteira sem qualquer cansaço ou dor muscular, sabia que ia terminar bem a prova, comecei a repetir para mim mesma o que o publico gritava “good girl” ,“you are awesome”.

Quando saímos do parque por volta do 30º km havia um staff motociclista e na sua moto estava tocando Born to be wild do Steppenwolf. Era o gás que eu precisava naquele momento, aquela música me encheu de energia para enfrentar a terceira e última parte da prova. Segundo a altimetria da prova, a partir dali só haveria descida e tinha uma pequena esperança de conseguir recuperar um pouco do tempo perdido.

Mas como em todas as ruas, você desce e depois você sobe e não teve essa de apenas descer. Estava começando a sentir os primeiros sinais de cansaço e a perna começou a ficar pesada, a cada descida mais acentuada meu joelho doía, mas mesmo assim conseguia manter o ritmo e não tinha vontade nenhuma de parar.

Quando passei o 35º km, o marcador de ritmo do 3:35 passou por mim e eu sabia que não iria mais conseguir ser sub 3:35. Tentei acompanhá-los, mas não consegui. Uma das meninas que estava acompanhando este pelotão, começou a andar um pouco mais pra frente, passei por ela e falei pra continuar correndo pra não parar, a partir daí, viramos uma espécie de dupla, ela as vezes me passava e eu as vezes passava ela… Neste ponto também vi as melhores placas de incentivo, um cartaz dizia “You could choose play chess” e o outro “six month ago it seemed like a good idea” e havia um grupo de meninas com cartazes “ I can like your endurance, call me”.

A partir do 38º km o cansaço bateu forte mas eu via a Bay Bridge e sabia que o fim estava próximo… Segui forçando, no km 40 o sol abriu e o calor castigou um pouco. Contornamos o estádio do Giants com chão sinuoso, tive que diminuir as passadas, pois não tinha mais coordenação para aquilo…

race_340_photo_6301983Quando finalmente peguei a avenida (esta sim era plana) que ficava a linha de chegada, eu via a Bay Bridge, mas ela não chegava, eu corria e os metros não passavam… Meu relógio marcou 42km, mas sabia que estava com erro e que teria que correr mais do que 195m pela frente,  segui em frente lutando contra o cansaço e quando entrei no funil final, passei fazendo sinal levantando a galera e cruzei a linha de chegada com o maior sorriso do mundo…Eu havia conseguido terminar mais uma maratona e aquele momento com o público aplaudindo foi mágico, apagou todo o sofrimento que passei na Maratona de Boston e fez com que todo o treinamento valesse a pena. E tive a certeza que tenho alma de maratonista…

Cruzei a linha de chegada com 3:39:41, apenas alguns segundos a mais que a Maratona de Rosário, mas que me garante índice para Boston em 2015… Agora vem a decisão Boston or not Boston? Tenho até setembro para decidir

Depois da prova fui buscar um canto pra sentar e quando vi sombra numa calçada foi lá mesmo que fiquei…A parti20140727_093540r daí, outros corredores foram sentando e transformamos a bela calçada numa verdadeira favela… Fizemos tanta bagunça que até segurança veio ficar do nosso lado…

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