Com quase duas semanas de atraso, finalmente consegui tempinho pra escrever… Isso sim que eu chamo de férias de verdade…
Cheguei em San Francisco na quinta-feira e os três dias mais quentes de SF dos 14 que fiquei na cidade foram exatamente sexta, sábado e domingo, dia da prova, a partir daí, o tempo variava em nublado, muito nublado, nublado com vento, pouco nublado… Aliás existe duas certezas em SF que haverá vento e que haverá subida ou descida e na maratona não foi diferente…
A expo para a retirada do kit foi num lugar muito legal e com ônibus disponibilizado pela organização transportando do local próximo onde seria a largada até a expo. Isso ajudou muito principalmente os turistas que não conhecem muito bem a cidade. Lá tinha bastante stands e meu cartão de crédito sofreu alguns abalos severos… Só senti falta de stand para venda de tênis, estes tive que ir em outra loja para adquiri-los.
Fui na expo na sexta-feira e no sábado fiquei quietinha no hotel descansando…
No domingo a largada era as 5:30, mas como estava num hotel distante um pouco mais de 1km, não precisei acordar tão cedo e saí por volta das 4:50 indo trotando até lá, aproveitando a distância para um rápido aquecimento. Deixei minha sacola no guarda volume e fui para minha baia de largada… Quando entrei levei um susto, era o mesmo da elite, não tinha separação; elite e sub-seeded (espécie de elite B) saíam juntos… Não contei mas acho que não tinha mais que 100 atletas.
Quando largamos tive que segurar o ritmo, pois a maioria ia num ritmo muito maior que o meu e não podia me empolgar, depois do primeiro km o ritmo girava em torno de 5:00, mas o ritmo não encaixava… Por volta do 2 ou 3 km comecei a ser ultrapassada pela segunda onda que largou apenas a 2 min depois de nós.. Segui no meu ritmo até quase o 4º km, quando teve o primeiro posto de hidratação, que na verdade era um copinho aberto e pequeno destes de aniversário com apenas metade de água, o que considerando o que cai ou entra pelo nariz, rendeu no máximo 1 gole de água… Na hora eu quase entrei em pânico, hidratação a cada 4km e com apenas isso de água, será desidratação na certa ainda mais se o sol sair.
Aqui vale um parênteses… A hidratação foi pra mim o único ponto negativo nesta prova, em cada posto tinha quase que parar e pegar um copo de numm (eletrolítico) e dois copos de água e tomar mais devagar pra não desperdiçar, com isso devo ter perdido fácil uns 2 a 3 min do tempo total de prova nos postos de hidratação. Depois do 21km a hidratação ficou mais fácil, pois houveram mais pontos de hidratação e além de ter esvaziado a prova com a conclusão dos atletas da primeira meia maratona.
Voltando para a prova, logo em seguida ao posto de hidratação veio a primeira subida e descida (a do Fort Mason). Eu havia passado nesta subida no dia da retirada do kit e pensei pera aí, esta subida não estava na altimetria kkk, neste momento percebi que a prova não seria fácil e resolvi abortar a busca por tempo e decidi fazer a melhor prova que pudesse fazer, meu medo era quebrar como em Boston.
Depois desta subida seguimos pelo Crissy Field até a subida para a Golden Gate. A subida foi forte, mas passei sem maiores problemas e quando chegamos na ponte ventava muito, o dia estava amanhecendo e parecia que ia ficar nublado. A ponte tinha uma inclinação, mas era menor que o da ponte Rio Niteroi. Era ponte que não acabava mais (e vento também) e curti cada metro que passei lá. No termino da ponte, houve ponto de água e distribuição de Gu (que não peguei), fizemos o retorno e voltamos para a ponte novamente.
Quando saímos da ponte havia passado pelo 15º km, estava me sentindo bem e iniciaria a segunda parte da prova, Presidio e Parque Golden Gate. Descemos um pouco passamos por um túnel e subimos novamente, daí houve um ponto de hidratação, o mais confuso da prova e começamos a despencar ladeira abaixo, não era uma descidinha, era um despenhadeiro… comecei a rezar para a musculatura agüentar e fomos quase todos a 4:40/4:30… Foi a parte mais gostosa da prova, parecíamos um bando de loucos correndo…
Daí saímos do Presídio e seguimos pelas ruas até o parque Golden Gate, como em todas as ruas de SF, era um verdadeiro tobogã, você descia e depois subia… Numa destas ruas, um rapaz colocou em frente a sua casa duas pequenas caixas de som e deixava tocando o tema de Rocky Balboa, exatamente quando tínhamos um subida para fazer. Aquela música mexeu tanto comigo que subi a ladeira me sentindo o Rocky subindo as escadas até a estátua, mas não vibrei quando cheguei no topo, apenas sorri e segui correndo.
Aqui vale outro parênteses… Nas ruas, haviam pontos onde ficavam pessoas nos incentivando com seus sinos (algo comum nos EUA), guardas controlando o trânsito (entre um pelotão de corredor e outro, eles deixavam os carros cruzarem a rua) e staff da prova que eram motociclistas (aqueles homens grandes e barbudos com coletes de couro e grandes motos, era muito legal passar por eles).
Quando chegamos no parque, houve separação dos atletas de meia maratona e maratona e a partir deste ponto a prova ficou vazia. O parque foi a parte mais difícil e monótona da prova, ficamos lá dentro por quase 10 km (do 20º ao 30ºkm), fazendo volta, subindo e descendo, passando por lago, contornado gramados. O parque é simplesmente lindo, mas de tanto fazer curva fiquei um pouco tonta. Também foi a parte que houve o maior ganho de elevação, o que exigiu esforço para manter o ritmo. Eu estava com medo desta parte, pois em Boston eu quebrei no 24ºkm, quando passei pelo 25º km inteira sem qualquer cansaço ou dor muscular, sabia que ia terminar bem a prova, comecei a repetir para mim mesma o que o publico gritava “good girl” ,“you are awesome”.
Quando saímos do parque por volta do 30º km havia um staff motociclista e na sua moto estava tocando Born to be wild do Steppenwolf. Era o gás que eu precisava naquele momento, aquela música me encheu de energia para enfrentar a terceira e última parte da prova. Segundo a altimetria da prova, a partir dali só haveria descida e tinha uma pequena esperança de conseguir recuperar um pouco do tempo perdido.
Mas como em todas as ruas, você desce e depois você sobe e não teve essa de apenas descer. Estava começando a sentir os primeiros sinais de cansaço e a perna começou a ficar pesada, a cada descida mais acentuada meu joelho doía, mas mesmo assim conseguia manter o ritmo e não tinha vontade nenhuma de parar.
Quando passei o 35º km, o marcador de ritmo do 3:35 passou por mim e eu sabia que não iria mais conseguir ser sub 3:35. Tentei acompanhá-los, mas não consegui. Uma das meninas que estava acompanhando este pelotão, começou a andar um pouco mais pra frente, passei por ela e falei pra continuar correndo pra não parar, a partir daí, viramos uma espécie de dupla, ela as vezes me passava e eu as vezes passava ela… Neste ponto também vi as melhores placas de incentivo, um cartaz dizia “You could choose play chess” e o outro “six month ago it seemed like a good idea” e havia um grupo de meninas com cartazes “ I can like your endurance, call me”.
A partir do 38º km o cansaço bateu forte mas eu via a Bay Bridge e sabia que o fim estava próximo… Segui forçando, no km 40 o sol abriu e o calor castigou um pouco. Contornamos o estádio do Giants com chão sinuoso, tive que diminuir as passadas, pois não tinha mais coordenação para aquilo…
Quando finalmente peguei a avenida (esta sim era plana) que ficava a linha de chegada, eu via a Bay Bridge, mas ela não chegava, eu corria e os metros não passavam… Meu relógio marcou 42km, mas sabia que estava com erro e que teria que correr mais do que 195m pela frente, segui em frente lutando contra o cansaço e quando entrei no funil final, passei fazendo sinal levantando a galera e cruzei a linha de chegada com o maior sorriso do mundo…Eu havia conseguido terminar mais uma maratona e aquele momento com o público aplaudindo foi mágico, apagou todo o sofrimento que passei na Maratona de Boston e fez com que todo o treinamento valesse a pena. E tive a certeza que tenho alma de maratonista…
Cruzei a linha de chegada com 3:39:41, apenas alguns segundos a mais que a Maratona de Rosário, mas que me garante índice para Boston em 2015… Agora vem a decisão Boston or not Boston? Tenho até setembro para decidir
Depois da prova fui buscar um canto pra sentar e quando vi sombra numa calçada foi lá mesmo que fiquei…A partir daí, outros corredores foram sentando e transformamos a bela calçada numa verdadeira favela… Fizemos tanta bagunça que até segurança veio ficar do nosso lado…
Parabéns!!!!!
ResponderExcluirShow de bola, Yeda! primor de relato!
ResponderExcluirbjs
Sergio
Lindo depoimento Yeda, emocionante e motivador!!!!!!Bjs
ResponderExcluirparabens yeda,lia
ResponderExcluirDisplicentemente ainda não havia lido este post. Parabéns !!! Você é foda !!! Sou seu fã de carteirinha !!! \m/ Born to the Run !!!
ResponderExcluir08/08/2014, tipo ontem....
ResponderExcluirCadê mais posts no meu blog preferido?
Beijos
Saudades, precisamos marcar o último blablablarun do ano
Colucci
Que lindoooo!!! Me inscrevi ontem pra ela, ainda não recebi o email de confirmação. estou louca pra ir, li seu post, achei puxado, mas amei demais. Amo desafios.
ResponderExcluirQueria mais dicas, rs vc tem e-mail para eu te escrever? bjs
pretendo correr essa maratona em 2018, e o seu foi o melhor relato da prova q encontrei, parabens pela conquista e pelo texto, me deixou ainda mais empolgado em encarar esse desafio de subidas e ladeiras. abs Marcelo (Zeroaos42k no IG)
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