Na terça-feira o treino parecia inofensivo, era 10 min de trote bem leve seguido por 20 de 1min ritmo médio. No começo só alegria, mas nos últimos 4 a perna começou a reclamar. No final fechei o treino com um pouco mais de 5km
Na quarta-feira quase variação do mesmo tema, 30 min a 75% seguidos por 10 de 20'' ritmo médio, mas desta vez concluído sem problemas, fechando o treino com quase 5km.
Na sexta-feira foi off sem ser, até tinha treino, mas perdi a hora, em vez de acordar as 5:00 como sempre acabei acordando as 6:20 e daí já não dava mais tempo de fazer nada. Tirando o exagero de achar que minha maratona estava comprometida pelo treino perdido, até que foi bom não treinar na sexta-feira.
No sábado nada de folga, o treino era 3 de 4 km a 80%, até comecei bem fechando a primeira serie com ritmo médio de 5:27, mas daí a fc resolveu aumentar e fui obrigada a reduzir a velocidade fechando as outras series com ritmo médio de 5:31 e 5:38.
No domingo chegou o dia de enfrentar os 15km do Sgto Gonzaguinha, na verdade seria um treino de luxo, pois o treinador pediu para correr sem forçar mantendo os 80%. São Pedro até resolveu dar uma ajudinha e o dia começou nublado e sem aquele calor insuportável que dominou a semana.
Como era o dia da final do mundial e o meu timão estaria em campo buscando mais um título, resolvi correr com o manto sagrado, uma maneira de homenagear meu time do coração.
Quando a prova começou, tive que me controlar para não me animar muito e com isso correr forte, neste momento recordei como é bom treinar para a maratona, o ritmo confortável que nos leva longe sem aquela dor insuportável.
Com isso, pude reparar no que acontecia a minha volta; no trânsito da marginal repleto de torcedores, numa corredora sem perna correndo com muleta, uma outra moça com sobrepeso fazendo o percurso andando e nos milhares de corredores percorrendo o mesmo caminho que eu.
E assim fui seguindo, km a km apreciando cada metro percorrido, mas no km10 próximo a quadra da Gaviões eu cansei. O jogo havia começado fazia uns 10 min e os gritos da torcida me fizeram arrepiar e deram um incentivo a mais para continuar em frente.
Só que o gás acabou de vez no km 11 próximo a ponte da Cruzeiro do Sul. Um cansaço absurdo bateu e continuar correndo era quase impossível. Olhei para a ponte e pensei “Posso desviar aqui e logo chego no final, é só um treino mesmo, não tem problema”, daí olhei para meu peito e vi o brasão do timão, eu estava com o manto sagrado…. Como poderia simplesmente parar…. O Corinthians estava do outro lado do mundo enfrentando o maior jogo da sua história e eu não podia correr mais 4km? Não tinha como parar tinha que seguir em frente não por mim mas pelo Corinthians. Neste ponto da prova, o que era para ser um simples treino se tornou uma batalha, como todo jogo do timão.
Passei pela ponte e segui em frente, evoquei a Dolly (sim o personagem do desenho “Procurando Nemo”) e comecei a repetir “Continue a correr, continue a correr…”. O bom de ser maratonista experiente é que sabemos correr com as pernas cansadas e mesmo com tudo contra o ritmo foi mantido e consegui percorrer os últimos km sem andar. Dizia para mim “agüente firme, termine esta prova e o sua parte para o Corinthians ser campeão você fez”
Quando entrei na escola da Polícia Militar e cheguei na pista sabia que faltavam alguns metros apenas, mas não dava para ter Sprint e minha idéia foi apenas em manter o mesmo ritmo até o final. Só que faltando uns 50m um outro corredor me alcançou colocou a mão nas minhas costas e disse, “Vamos, vamos terminar esta prova” e na companhia dele resgatei o último gás e acelerei cruzando a linha de chegada com 1:22:29.
Quando finalmente parei a emoção tomou conta de mim, havia feito a minha parte e agora o Timão estava mais perto de ganhar aquele título. Comecei a chorar e demorei alguns minutos para conseguir voltar ao normal.
Dito e feito algum tempo depois, Corinthians fez 1 a 0 e conquistou mais um título mundial e esta corrida entrou definitivamente para a minha história como uma das mais importantes.
Corro por ti Corinthians |
Sobre a prova, a organização durante o percurso foi impecável, mas para mim falharam em 3 pontos na chegada:
- Kit foi composto por barra de cereal toda amassada e maçã podre
- O local da retirada da medalha estava totalmente “enlameada” e com muita água, para passar não tinha jeito tinha que enfiar o pé na lama preta (que não sai do tênis de jeito nenhum). A organização deveria ter mudado o local ou pelo menos forrado para minimizar o estrago.
- O guarda volume ficava do outro lado, dentro do ginásio ou dava-se uma volta imensa ou passava por onde os corredores estavam chegando